A pequena, pujante e estratégica Canaã dos Carajás respira política dia e noite. Não há quem esteja alheio ao que acontece no ano que antecede o pleito do ano que vem. Como qualquer ano de véspera eleitoral, grupos começam a se atacar, o ódio começa vir à tona e o sonho de poder de tantos ressurge como que por milagre. Não é diferente em qualquer outra cidade do Brasil; a política exalta ânimos, pois trata diretamente de futuro, de projetos coletivos e particulares.
O recorte escolhido, no entanto, é Canaã.
Ao notar o início cíclico das agressões nas redes, dos discursos inflamados, da dicotomia e até do maniqueísmo, este último tão comum na ainda tão não progressista Canaã, me veio à mente a questão: por quem os sinos dobram aqui nesta Terra Prometida?
O mais atento leitor, deve se lembrar do livro de Ernest Hemingway e a assoladora Guerra Civil Espanhola no livro que carrega o mesmo nome da pergunta que meio veio à mente. Irmãos lutando contra irmãos, matando pessoas das mesmas terras e territórios por ideologias, por formas de se pensar o mundo. Nenhuma guerra é mais violenta que a civil, afinal se mata compatriotas – irmãos contra irmãos.
Como diria John Donne, nenhum homem é uma ilha. Somos todos pedaços de continente, parte de terra firme. A morte de qualquer homem diminui a mim, porque na humanidade me encontro envolvido. Os sinos dobram por ti.
Os sinos dobram por todos nós em Canaã. Se um morre, morremos todos um tanto mais.
A grande verdade é que disputas políticas, ideológicas não devem ser guerras civis. Um lado não é o bem e outro não é o mal; e vice versa.
Somos todos pedaços de continente.
Quando chegar a hora, convicções pessoais não podem estar acima de nossas humanidades, do respeito às convicções alheias.
Tenho convicção de que na hora de defender projetos, poucos se lembrarão de que não há ilhas em Canaã e que tal reflexão sobre o dobrar dos sinos jamais será levada em conta. Ainda assim, o óbvio precisa ser dito.
Ao fim, pouco importa o que nos separa. Temos muito mais em comum do que pensamos.
Quando os sinos dobram por alguém, dobram por todos – jamais esqueça.
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