Parte dos que lerão este texto votaram no FHC, depois votaram no Lula, depois na Dilma, depois no Aécio, depois no Bolsonaro. E estão bem com isso. Não há crise de consciência, não há crise de identidade. Vida que segue.
No entanto, quem é Flamengo é Flamengo até morrer. Quem é Fluminense é tricolor de coração. Quem é Corinthians, é fiel. Quem é Palmeiras, canta e vibra.
Não há, nem nunca houve negociação. No Brasil, torcer pra algum time é decreto pra vida toda. Sempre foi assim.
Lembro das brigas pra ver quem era o melhor centroavante do Brasil: Fred do Fluminense, Adriano do Flamengo, Ronaldo do Corinthians, Barcos do Palmeiras, Alecsandro do Inter, Aleilson do Águia e tantos, tantos outros. Brigas sérias, brigas de família mesmo.
Mas hoje é tudo diferente. Não se fala quase em futebol. Só se fala em política. Canaã dos Carajás, por exemplo, o assunto é 2024. A única briga que importa é de qual lado vai se estar: esquerda ou direita.
E tem tanta coisa acontecendo: Botafogo tá perto de fazer história, Flamengo tá na final da Copa do Brasil, Fluminense perto da semifinal da Libertadores e em Canaã... O Canaã Esporte Clube, primeiro time profissional da Terra Prometida, venceu no fim de semana e passou pra próxima fase da segundinha.
A gente já não briga por futebol. Tanto faz pra qual time se torce.
A gente briga por política. Política, não, pior. A gente briga por visão de mundo. Se você votou na esquerda, é libertino pra sempre. Se votou na direita, é intolerante até o fim. Pra gente, só resta razão a quem pensa como a gente. E o fim do mundo está por um triz.
Ao fim, brigamos com nossos amigos e parentes, porque pensam diferente do que acreditamos: um desastre. O que nos resta, e nem percebemos, são arremedos de pensamento, resquícios de sobriedade e uma eterna, voraz e incontrolável convicção sobre o que nos rodeia.
Não estamos politizados por deixar de lado o futebol. Estamos selvagens por não respeitar o pensamento do outro.
Sou Fluminense, Fred é o maior ídolo da nossa torcida, mas jamais deixei de admirar e respeitar Ronaldo, Adriano, Alecsandro, Aleilson, Barcos e tantos outros. Você queria vê-los perder, é claro, mas ainda assim o respeito era máximo.
Antes, também foi assim na política. Votar em um, votar em outro. Tanto faz. Agora, não dá pra mudar. Votar em alguém virou sentença eterna.
Em tempo, política é importante. Bem mais que futebol até. Mas o que estamos fazendo e discutindo não é política, longe disso. E essa é a tragédia do nosso tempo.
A gente nunca mais brigou por futebol. Que saudade.
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