O aluno José Miguel Correia Coelho Neto estava concentrado na manhã deste sábado (11) para o lançamento de um foguete que construiu com suas próprias mãos. Com a ajuda do professor Edson Nunes, posicionou seu artefato científico na base de lançamentos, esperou a contagem final e, ao fim, puxou a corda que destravava o mecanismo que emula um sistema de propulsão para lançamento.

O foguete voou por quase 100 metros até pousar do outro lado do campo e fazer com que José Miguel tivesse uma explosão de felicidade. Sem conter a própria alegria, o adolescente bradou. “Meu Deus do céu! Você viu a distância que foi? Meu Deus do céu!”

José Miguel é cadeirante, aluno do 7º ano, e bolsista comunidade do Centro Educacional Primeiro Mundo de Canaã dos Carajás. O estudante refletia muito bem o espírito entusiasmado dos jovens alunos da escola, que colocavam em prática os ensinamentos científicos aprendidos em sala de aula.

O Centro Educacional Primeiro Mundo realizou neste sábado etapa classificatória do I evento de Lançamentos de Foguetes promovido pela instituição em Canaã. Ao todo, 700 alunos do 6º ano à 3ª série do ensino médio participaram do evento, que foi realizado no campo da escola desde as primeiras horas da manhã.

Divididos por equipes, os alunos tiveram que montar os próprios foguetes utilizando peças recicláveis, materiais simples de expediente escolar e princípios físicos. A ideia é construir um protótipo eficiente, que resista ao lançamento, e fazê-lo voar mais longe. Ganha a equipe que registrar a maior distância de voo.

Apesar da sadia disputa entre as equipes formadas pelos alunos, o professor Edson, mestre da física na instituição e realizador da competição, explica que a dinâmica vai muito além de encontrar um campeão. “Nós costumamos trabalhar o que chamamos de metodologias ativas e estamos trabalhando um ensino baseado em projetos. Então esses estudantes estão aqui hoje disparando os foguetes deles. Aqui a gente aborda vários conceitos físicos e estimulamos o trabalho em equipe, que é o ponto principal: trabalhar em parceria e colocar a mão na massa.”

De acordo com Edson, os estudantes já tinham realizado projetos semelhantes no ano passado, mas essa é a primeira vez que ele acontece em formato de competição. O mestre também conta que os protótipos foram construídos com sua supervisão. “Eu acredito que sempre que você coloca a mão na massa, a informação fica na sua mente pelo resto da vida. Eles sempre vão levar dessa atividade experimental. Fico muito feliz que os alunos se envolveram bastante no projeto e isso é uma satisfação.”

Também professor de físico, Marlon Barros contribuiu para a realização do certame. Ele explica que o Lançamento foi pensado inicialmente pelo professor Fabrício, que faleceu no ano passado. “É uma forma de fazermos também uma justa homenagem a esse grande profissional que nos deixou. Ao mesmo tempo, é também muito divertido para nós estarmos trabalhando não só a física, mas também a matemática, a química. Então é um projeto interdisciplinar, que abrange outras áreas de conhecimento. Temos a perspectiva de levar nossos alunos a participar da Mostra Municipal, depois estadual e, quem sabe, até a Nacional.”

Auxílio de luxo  

E por falar na competição nacional citada pelo professor Marlon, os alunos do Primeiro Mundo tiveram um auxílio pra lá de luxuoso durante a competição. Nada menos que o professor Carlos Rogério e o estudante Erik Henrique Mestre estiveram presentes para dar dicas valiosas aos competidores.

Carlos e Erik são campeões da Mostra Brasileira de Foguetes (Mobfog) 2023, realizada dentro da Olímpiada Brasileira de Astronomia em Barra do Piraí no Rio de Janeiro. Especialistas na produção de foguetes artesanais, os dois foram campeões ao fazerem seu artefato voar por mais de 160 metros.

Classificados para a final

Quem estava feliz da vida e concedeu entrevista ao Gazeta Carajás foi o trio Davi Lima Diniz, Paulo Cardoso e Carlos Daniel.

Os três jovens estudantes fizeram seu foguete voar por cerca de 120 metros, conseguiram a segunda melhor marca do dia e estavam classificados para a final. “Nós agora vamos trabalhar na reconstrução do nosso foguete, ver o que pode ser melhorado, pois vamos disputar a final agora e queremos o primeiro lugar” explicou Paulo.

Já Davi explicou que a equipe acabou se superando no processo. “Tivemos problemas na montagem dos foguetes, peças faltaram e até bateu um desespero, mas já na reta final a gente fez testes e viu que o foguete voou bem longe e já ficamos felizes.”

Ciência e o passaporte para o futuro

Albert Einstein, o mais célebre cientista de todos os tempos, foi preciso ao afirmar que “uma mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”. Conforme também explicou o professor Edson, os 700 estudantes do Primeiro Mundo que participaram da competição jamais vão esquecer o que aprenderam em sala de aula, em campo e trabalhando em equipe.

Em uma das cidades mais promissoras do Brasil, ver jovens interessados em aprender e pôr em prática conceitos científicos é acreditar em um futuro melhor para Canaã. Tal qual um foguete que após lançado não volta ao ponto original, os jovens cientistas canaenses jamais regressarão ao seu estado inicial – o conhecimento não permite isso.

De olho no futuro, estes jovens transformarão Canaã em um lugar cada vez melhor e a tornarão, muito em breve, uma cidade de Primeiro Mundo.