A noite de terça-feira (28) foi histórica para Canaã dos Carajás. Na data, a Câmara Municipal de Canaã dos Carajás aprovou o Projeto de Lei 001/2023, de autoria do vereador Wilson Leite, que dispõe sobre o gentílico de Canaã. De forma unânime, os vereadores votaram para que o cidadão de Canaã seja denominado “canaense”, encerrando assim as dúvidas em relação ao tema.

Durante a sua explanação de defesa do PL, o vereador Wilson Leite explicou que a base para a construção do seu projeto era o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da estudante de Letras Mayanda Bacelar. A aluna da Universidade Federal do Pará (UFPA) se formou em Canaã dos Carajás por meio do polo Universidade Aberta do Brasil (UAB) e defendeu o gentílico canaense em sua tese para concluir o curso.

Questionada, Mayanda explicou porque a denominação do cidadão de Canaã deve ser canaense. “Com base no trabalho sociolinguístico realizado há anos em torno desta variação, a inferência feita após a análise tabulação de dados aponta para a preferência’ da variante canaense por grande parte dos falantes deste município.”

A defesa do TCC foi feita em 24 de fevereiro de 2021 e teve orientação da professora doutora Rafaella Capela Leão. “O trabalho foi avaliado pela banca com conceito excelente. É um trabalho considerado inédito, visto essa variação ser considerada uma variação em curso no município e uma oportunidade para os estudante que buscam desenvolver trabalhos sociolinguísticos no futuro.”

De acordo com Mayanda, a equipe do vereador a procurou para utilizar como base o seu TCC para elaborar o PL. “Recebi por diversas redes a transmissão da votação deste Projeto de Lei e me sinto grata em ter contribuído com esse passo, que é reflexo do poder do léxico dessa mistura de raças em Canaã.”

A estudante também foi questionada sobre o trabalho de pesquisa linguística desenvolvido por ela. “A pesquisa mencionada é uma pesquisa sociolinguística, com o principal objetivo de averiguar o uso desses adjetivos entre os moradores da cidade, tendo em vista a necessidade de respeitar a diversidade linguística e social das pessoas do município. Foi estruturada em cinco capítulos que discorrem deste o Processo Morfolexical de Formação das Palavras, Processo de Formação de Adjetivos Étnicos Denominais e a Contextualização Histórica de Canaã dos Carajás.”

Mayanda deu mais detalhes sobre o método utilizado na pesquisa. “Por meio da técnica de triangulação, foram analisados os dados e resultados obtidos por meio de questionário, nos documentos e na observação assistemática com enfoque na variante formal (de acordo com o IBGE) e na de maior ocorrência durante a observação. Como conclusão desta pesquisa foi descoberto que as formas canaãnense e canaense são possíveis de serem realizadas nesta cidade e que as duas formas estão corretas.”

A estudante falou também sobre as razões que a levaram a escolher o tema para o TCC. “A escolha se deu pelo incomodo. Criou-se ao longo dos anos uma espécie de peneira social correlacionada a língua e a fala. Há uma segregação de pessoas em função da forma como estas se expressam. Em grande parte, esta segregação e os estigmas criados são infundados e é trabalho dos estudiosos da língua descreverem estes fenômenos com a finalidade de trazer bases e estudos que apontem para uma forma harmoniosa de respeitar a diversidade e a expressividade linguística de um povo.”

Formada há dois anos, Mayanda explica que não parou de estudar. “Atualmente trabalho na multinacional Vale no município como gestora de manutenção e atuo em diversos temas relacionados à inclusão e diversidade. Também mantenho uma relação e enfoque muito grande com a Educação de Jovens e Adultos (EJA), modalidade que atuei e sou apaixonada. Atualmente sou mestranda da Unifesspa, no eixo Língua Cultura e Sociedade, dando continuidade aos estudos sobre variação linguística do gentílico de Canaã dos Carajás. Também faço parte do Observatório de Linguagem do Sul e Sudeste do Pará (OLISSPA) e contribuindo com estudos sociolinguísticos na região e em especial em Canaã dos Carajás.”

Ao ver sua pesquisa virar lei, Mayanda diz que a sensação é de pertencimento. “Esta pesquisa é a descrição da manifestação linguística popular. Estou feliz em ter sido sensível a essa manifestação e poder contribuir de alguma forma com o fortalecimento da identidade da minha cidade.”

Aluna da primeira turma de Letras da UFPA em Canaã, Mayanda, produto da educação, ressalta a importância da expansão da oferta de ensino no município. “Sempre acreditei e defendo a educação pública, gratuita e de qualidade. Sou estudante da rede pública, meus filhos são estudantes da rede pública porque eu acredito. Temos uma grande oportunidade de crescimento e evolução e faremos isso por meio da educação, por meio da eleição democrática de gestores escolares, por meio de cursos profissionalizantes, escolas técnicas e universidades. Sou muito grata por tudo que tenho e se tenho é pelo incentivo da minha mãe que sempre acreditou na educação e que me fez acreditar e lutar mais ainda. Hoje nós já somos um polo importante, os melhores profissionais e pesquisadores do Brasil estão ou têm conexão em Canaã dos Carajás, somos uma potência em desenvolvimento humano e juntos faremos a nossa cidade uma referência para o Brasil.”