Não me considero uma pessoa de difícil diálogo. Apesar de nem sempre conseguir, tento entender o lado do outro, tento ouvir e buscar uma melhor compreensão do ponto de vista daqueles que discordam de mim.
Foi pensando nisso que tentei conversar com um bolsonarista/patriota de Canaã dos Carajás. O tema, claro, as manifestações no Brasil, os pedidos de intervenção militar, que são, na prática, golpismo puro.
Não conversei com o patriota no intuito de provocá-lo. Queria mesmo era entender as motivações desse pessoal, de repente os bolsonaristas estão enxergando o que o resto do Brasil não está. Por isso, quis entender esse movimento e tivemos, relativamente, um bom diálogo.
O patriota me disse que está convicto da fraude nas eleições brasileiras. Ele explicou que não confia nas urnas eletrônicas, apesar de elas elegeram Bolsonaro e sua família há décadas para os cargos que se candidatam e terem elegido, por uma boa margem, o deputado que ele defende todos os anos em Canaã. Sem explicar tanto os seus motivos, me disse que estava indo para Brasília, que queria intervenção militar e que nada o faria mudar de ideia.
Lembrei a ele que países, como os Estados Unidos, já anunciaram que aplicarão sanções econômicas ao Brasil, caso o resultado das urnas não seja respeitado. Argumentei o óbvio: Se sofrermos sanções dos EUA, da China, da Europa, ficamos miseráveis no dia seguinte. Importamos quase tudo o que consumimos, vivemos de exportar commodities e dependemos do mundo para sobreviver, essa é a verdade.
Por exemplo, destaquei a ele, se a China deixar de comprar nosso minério, o que será de nós? Se a Europa deixar de comprar nossa carne, o que será do agro que tanto defendem e que, evidentemente, é essencial? Se não quiserem vender trigo aos brasileiros, por exemplo, o que será da nossa alimentação? A química fina dos nossos remédios, por exemplo, que é importada, não chegaria mais a nós e pessoas morreriam de doenças. Sanções, embargos econômicos na prática destroem um país e serão impostas caso um golpe seja aplicado no Brasil, caso o sonho dessa gente se torne realidade.
Por fim, questionei: se você é patriota mesmo, não leva isso em conta?
Ele disse que entendia o meu lado (meu lado?!), que respeitava minha opinião, mas que estava convicto de que não deixaria "um ladrão assumir a presidência" e que as urnas foram fraudadas, não dava pra aceitar um resultado fraudado.
Este patriota, dois anos atrás, esteve ao lado de um candidato a prefeito que perdeu as eleições. Após o pleito, ele, acompanhado de mais colegas, questionou o resultado das urnas eletrônicas e foi até Marabá para pedir que as eleições fossem anuladas. Segundo ele e seu grupo, o candidato derrotado tinha, na verdade, vencido e era inaceitável o resultado. Nem mesmo o candidato derrotado questionou o processo democrático, apenas aceitou a derrota calado, sem atacar o sistema eleitoral.
Com essa ficha de desrespeito à democracia, me pergunto o óbvio: se essa gente não acredita no processo eleitoral, por que participa dele?
Por que os patriotas não foram às ruas antes para pedir intervenção militar? Por que não ocuparam antes praças públicas, por que não acamparam em frente aos quarteis antes da eleição? Se o candidato deles tinha que ganhar de um jeito ou de outro, era mais fácil ter admitido logo a vocação para o golpe. Era mais fácil, simples e digno. Teriam se poupado, inclusive, do desgaste de precisar votar - já que a democracia não tem valor algum para essa turma.
Tenho convicção de que não haverá golpe no Brasil e que a história será implacável com movimentos intervencionistas. O grande erro dos movimentos antidemocráticos é esquecer que o tempo passa, que a história continua sendo escrita e que nada jamais será como antes. Já não estamos em 1964, pseudopatriotas. O mundo sabe quem são vocês, o que querem e o que fazer para acabar com essa sanha golpista.
Já não se matam democracias como antes e não vão matar a nossa.
Ah, não trocamos ofensas, respeito o patriota, respeito seu pensamento, mas discordo totalmente do seu posicionamento e lamento profundamente a sua incapacidade de enxergar dois palmos além do que acredita. Mas houve diálogo, o que é importante. Não vai dar pra reconstruir o Brasil sem conversar com aqueles que pensam diferente - eu vou continuar tentando.
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