São trilhões de horas flutuando por entre as telas de celulares. São dedos rápidos, habilidosos, treinados para passar o tempo o mais rápido possível.
São trilhões de horas em storys inúteis. São zilhões de fotos à beira mar - julho, né - em biquínis e sungas cada vez mais ousados. Abre o explorar, e o algoritmo trabalha para prender você ainda mais tempo nas ralas existências das redes antissociais.
Canaã dos Carajás, terra do minério de ferro e das toalhas caindo online, é San Junipero. É por aqui que a gente migra de uma rede social para outra sem pudor nenhum, sem se importar com mais nada. Aqui, o dia mesmo de quem trabalha nas profissões mais árduas, se resume a isso: pular story, rever status, publicar fotos, vídeos, falar onde estar, trocar de rede social, ver curtidas, ver comentários, curtir comentários, curtir curtidas.
Aqui é San Junipero. Sem nem perceber, já estamos na nuvem. Já vivemos online, já despejamos nossas existências numa grande simulação da realidade. Não aceitamos o fato de que somos finitos, de que nossas realidades, ao fim, são bem tristes.
Nossos dedos são cada vez mais hábeis para a programação das redes. Em compensação, nossos cérebros são cada vez menos capazes de manter diálogos ao vivo e em cores. Estamos fugindo de realidades ordinárias e surfando na lucrativa vida de quem vive de iludir.
San Junipero é uma ilusão. É, na verdade, um conglomerado de histórias tristes de gente que não aceita a vida como ela é: árdua, finita, porém, maravilhosa.
Estamos em Junipero. O problema será se um dia alguém resolver desconectar os cabos do servidor central.
Estaríamos mortos na próxima cena.